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Imagem ilustra os irmãos

Por Leo Soares
Contato – leonardo@newsic.com.br

Araguari/MG – 18 de janeiro de 2024 – No ano de 1937, em meio ao contexto turbulento do Estado Novo no Brasil, um evento marcante abalou a cidade de Araguari, interior de Minas Gerais. O desaparecimento de Benedito Pereira Caetano, comerciante de arroz, deu início ao trágico episódio conhecido como o caso dos irmãos Naves.

A história envolve os irmãos Joaquim Rosa Naves e Sebastião José Naves, acusados injustamente pelo desaparecimento de Benedito, primo deles. No comando das investigações, o delegado interino de Araguari na época, Francisco Vieira dos Santos, tomou medidas extremas, que resultaram em uma das maiores injustiças da história judicial brasileira.

Benedito Caetano era sócio de Joaquim e desapareceu após receber uma quantia considerável de dinheiro. A suspeita recaiu sobre os primos dele, que acabaram sendo presos, torturados e forçados a confessar um crime que não cometeram. As torturas com métodos cruéis eram frequentes no porão da delegacia: os irmãos tinham seus corpos cobertos com mel para atrair insetos, e seus dentes e línguas eram arrancados e machucados com alicates, além de diversos outros abusos, cometidos não só contra eles, mas também contra seus familiares. 

O advogado João Alamy Filho posteriormente defendeu os irmãos, e, mesmo após duas absolvições em julgamento e sem a existência de provas conclusivas, a Justiça da época terminou por condená-los a 25 anos de prisão. 

Em um desfecho surpreendente, o caso dos irmãos Naves teve sua reviravolta em 1952, quando Sebastião recebeu um telegrama informando que Benedito estava vivo. O homem, que era considerado morto, reapareceu e contou uma versão diferente do ocorrido, relatando que havia sofrido um assalto e fugiu para outros municípios para não ter de arcar com as dívidas resultantes da perda do dinheiro.

A libertação dos irmãos veio tarde demais. As sequelas físicas e psicológicas marcaram suas vidas, e a sociedade que antes os reconhecia como familiares passou a vê-los como uma maldição. Joaquim faleceu em 1948, antes de ser inocentado, vítima de problemas estomacais causados pelas torturas. Já Sebastião, após anos de trabalho árduo, veio a óbito em 1963, devido a complicações respiratórias resultantes dos maus-tratos. Anos depois, a família recebeu uma indenização do governo em retaliação ao erro cometido, mas esta veio em forma de uma quantia suficiente apenas para adquirir uma casa simples.

O filme O Caso dos Irmãos Naves, dirigido por Luís Sérgio Person, de 1967, retrata a tragédia que marcou a vida dos primos. Baseado no romance de João Alamy Filho, o advogado dos irmãos, o filme tornou-se um clássico brasileiro. A obra foi cotada para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro, mas não chegou a ser finalista. Ainda assim, conquistou seu lugar na lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

A injustiça que permeia o caso dos irmãos Naves é um capítulo sombrio da história judicial brasileira, resgatando a importância de garantir a justiça e os direitos humanos em todas as situações. O trágico episódio serve como alerta para os perigos do abuso de poder e das práticas judiciais duvidosas, que podem deixar cicatrizes irreparáveis na vida de inocentes.

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