A recente condenação da médica Lana da Silva, no Pará, por divulgar vídeos alegando que o câncer de mama “não existe” é um caso emblemático da batalha contra a desinformação em saúde. Durante o Outubro Rosa, mês voltado à conscientização sobre o câncer de mama, essa situação revela os riscos da desinformação propagada por profissionais da área médica. A decisão judicial, que a obrigou a remover os vídeos e proibiu novas postagens de teor negacionista, reflete a necessidade urgente de responsabilidade no uso das redes sociais por profissionais de saúde. Quando um médico fala, sua palavra carrega peso e influência, o que pode impactar diretamente as decisões de saúde da população.
Estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) destacam que o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, com cerca de 2,3 milhões de novos casos diagnosticados anualmente. A negação de sua existência por um médico vai além de um erro; é um ato perigoso que subverte o consenso científico e pode afastar pacientes de cuidados preventivos e tratamentos vitais. Em um mundo onde as informações circulam rapidamente, a propagação de ideias falsas por uma autoridade médica alimenta desconfiança e pode minar anos de campanhas de conscientização. É imperativo que o público confie nos profissionais de saúde para receber informações precisas e baseadas em evidências.
A ética médica exige um compromisso inabalável com a verdade e o bem-estar dos pacientes, algo que filósofos como Immanuel Kant consideravam fundamental. Segundo Kant, as ações devem se basear em princípios universais que possam ser adotados por todos. No contexto médico, isso significa que qualquer informação compartilhada deve ser cuidadosamente verificada e beneficiar a sociedade como um todo. Quando médicos, como Lana da Silva, promovem desinformação, violam não apenas a ética da profissão, mas também os valores que sustentam a confiança pública. No caso específico dela, a situação é agravada pelo uso das redes sociais para fazer propaganda de tratamentos alternativos, uma prática proibida pela Resolução CFM nº 1.974/2011, do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Essa resolução estabelece que o médico não deve realizar propaganda de medicamentos ou tratamentos de forma sensacionalista ou com promessa de resultados. O artigo 3º especifica: “O médico não deve divulgar, em qualquer meio de comunicação de massa, informações que possam causar pânico, medo, sofrimento ou falsas esperanças na população. É vedado ao médico realizar publicidade de métodos ou tratamentos que ainda não tenham comprovação científica reconhecida, bem como realizar propaganda de qualquer medicamento, produto ou procedimento de forma sensacionalista ou com promessa de resultado.” Com isso, ações como as de Lana da Silva infringem claramente as normas éticas da profissão e colocam em risco a confiança na prática médica.
As redes sociais, enquanto ferramentas poderosas de disseminação de conhecimento, têm seu lado obscuro: o potencial de amplificar informações incorretas rapidamente. A presença de um médico nas plataformas digitais deve ser sinônimo de responsabilidade e precisão. No entanto, a realidade mostra que nem todos utilizam esses espaços com esse propósito. Mensagens enganosas, ainda mais vindas de uma fonte aparentemente confiável, podem confundir o público e enfraquecer campanhas de saúde pública. O caso de Lana da Silva reforça a necessidade de maior fiscalização sobre como profissionais de saúde interagem com o público nesses meios.
A condenação de Lana da Silva é, portanto, um passo importante para coibir a disseminação de informações que podem pôr vidas em risco. A justiça, ao impor a remoção do conteúdo e proibir novas publicações falsas, envia uma mensagem clara sobre as consequências de desrespeitar normas éticas. Medidas assim são essenciais para preservar a credibilidade do campo médico e proteger a população de influências nocivas. Não se trata de limitar a liberdade de expressão, mas de assegurar que essa liberdade seja usada de forma responsável e alinhada com princípios que priorizam a saúde e a segurança coletiva.
Por fim, o episódio envolvendo Lana da Silva destaca a importância da responsabilidade ética e profissional. A saúde pública depende de uma corrente de confiança e transparência entre médicos e pacientes. A conscientização sobre o câncer de mama salva vidas, e qualquer iniciativa que contradiga essa verdade deve ser tratada com a seriedade que merece. A condenação da médica não é apenas uma questão de justiça; é uma defesa da ciência, da integridade médica e da proteção das pessoas que dependem de informações corretas para decisões que podem salvar suas vidas.