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imagem ilustra a carta da Dona Pureza

No dia 31 de outubro, uma idosa de 61 anos, identificada como Maria de Jesus Souza, foi encontrada morta na própria casa, na comunidade Flexal de Cima, no bairro Bebedouro, em Maceió. 

Conhecida como Dona Pureza, ela era uma das pessoas que sofrem com o isolamento social provocado pelo risco iminente de afundamento da região, em decorrência da mineração de sal-gema pela mineradora Braskem. 

Desde 2019, os moradores lutam para serem realocados para locais seguros, assim como ocorreu nos bairros do entorno, que hoje estão vazios. Porém, as autoridades, junto à mineradora, insistem que os Flexais podem ser revitalizados, forçando as famílias da região a permaneceram lá, cercadas por bairros inabitados.

A morte de Maria de Jesus é consequência direta dessa situação. Seu corpo foi encontrado no sofá de sua casa, com sinais de envenenamento. 

Além dela, sua filha Elenilma, que completou 42 anos no dia 30 de outubro, foi encontrada agonizando em seu quarto, assim como o gato de estimação da família. A principal suspeita das autoridades é que Dona Pureza tenha envenenado a filha e o gato, cometendo suicídio em seguida.

O caso foi descoberto pela sobrinha da idosa, que foi até a casa para comemorar o aniversário de Elenilma e se deparou com a situação. 

A filha de Maria de Jesus, que, segundo o relato de vizinhos, sofre de transtornos psiquiátricos, foi socorrida com vida e encaminhada ao Hospital Geral do Estado (HGE), onde permanece internada, em estado grave.

Na casa, foi encontrada uma carta de Dona Pureza, datada de 30 de outubro de 2024, dizendo: “Cada vez que eu vejo os benefícios da Braskem, a minha desilusão aumenta. Estou cada vez mais depressiva em saber que vou ficar nesse isolamento para sempre”.

Uma semana antes de tirar a própria vida, a idosa se encontrou com o defensor público Ricardo Melro, que visitou o Flexal de Cima para ouvir os moradores. Ela contou que estava desiludida com a melhora da situação, dizendo que ficaria enterrada ali para sempre.

Ao saber da morte de Dona Pureza, Melro disse ter ficado assustado com a notícia e enfatizou: “O prazo para terminar as obras de revitalização terminou e já era para fazer a avaliação se funcionou ou não. Prorrogaram como se fosse bobagem […], é muito fácil dizer que pode prorrogar sem ir lá. A gente lamenta demais a postura dos órgãos em insistirem nessa revitalização, sem levar em consideração a vontade da população”.

Cássio Araújo, coordenador do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem, que também esteve com Dona Pureza, disse: “Lembro das declarações dela e do seu semblante de desalento diante da requalificação que a Braskem quer impor aos moradores.[…] É a perpetuação do sofrimento, do isolamento e da desesperança”.

Em nota, a Braskem informou que está ciente da tragédia ocorrida no Flexal e disse que tem mantido um serviço de apoio psicológico aos moradores do bairro, localizado na rua Tobias Barreto.

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Por Isabel Bergamin Neves
Contato: maimoreira@newsic.com.br

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