Cléber de Jesus Rodrigues, de 37 anos, conhecido também como Clebinha, é acusado de violentar 60 vítimas na capital do país e em 15 municípios goianos situados no Entorno do Distrito Federal. Todos os crimes aconteceram entre 2002 e 2011. Ele é considerado o maior estuprador do DF, e o seu caso ficou conhecido como Jack da Bike.
Sua primeira condenação foi em 2012. Somadas todas as sentenças, ele deveria cumprir 100 anos de cadeia.
Os crimes
As investigações tiveram início em 2006, quando policiais civis da 14ª Delegacia de Polícia (no Gama) notaram um salto no índice de ocorrências envolvendo crimes sexuais na cidade. As vítimas relataram um agressor que usava capuz e uma bicicleta, o que permitia a ele se movimentar com mais velocidade e se afastar das cenas do crime.
O delegado de polícia civil do DF, Sérgio Bautzer, conta que percebeu um padrão nos crimes: eles aconteciam sempre aos finais de semana, após às 23h, sendo que muitos deles ocorriam durante a madrugada, entre 3h e 5h. As vítimas tinham entre 18 e 24 anos e eram abordadas em saídas de festas, especialmente na saída da danceteria Classe A, na região do Gama.
Como Cléber era DJ em algumas festas, acredita-se que ele escolhia as vítimas enquanto trabalhava e, ao vê-las deixando as boates, ia atrás delas e as atacava.
As mulheres violadas não possuíam marcas de violência ou traços genéticos do agressor. A teoria de Bautzer é que Cléber utilizava preservativos e depilava os seus pelos pubianos. Até o ano de 2011, o criminoso executava ações bem organizadas, dificultando a sua identificação. Ele controlava a cena do crime, mantendo as vítimas subjugadas.
No período, muitas queixas foram prestadas com o mesmo modus operandi: a vítima era abordada na saída de uma danceteria e era obrigada pelo criminoso a se sentar no guidão ou no quadro da bicicleta, de modo que ele a envolvesse com os braços enquanto pedalava. Ao chegar a uma área isolada, com uma arma ou um simulacro apontado para a nuca da vítima, o criminoso cometia a agressão.
Cléber saiu deste padrão apenas três vezes. Na primeira ocasião, ele abordou dois casais de madrugada, após uma festa. Os casais foram ameaçados com uma arma de fogo e levados para um local “isolado”. O maníaco afirmava que se alguém tentasse fugir seria morto a tiros. Depois de obrigar as jovens a tirar a roupa, ele ordenou que elas se deitassem de bruços sobre os companheiros, de forma a atrapalhar a visão dos homens. Em seguida, realizou os estupros.
Na segunda ocasião, o agressor abusou de duas mulheres ao mesmo tempo, violando uma com o órgão genial e a outra com a mão. Na última ocasião, a vítima reagiu, e ele atirou. O delegado Bautzer acredita que o criminoso estava tão à vontade que começou a realizar os seus fetiches e a ficar mais violento.
De acordo com o perfil traçado pela criminóloga, escritora e roteirista Ilana Casoy, Cléber possui o perfil romântico, ou seja, os estupros são a expressão das suas fantasias sexuais. Um criminoso com esse perfil pode ser depravado, ter experienciado problemas sexuais na adolescência ou na vida adulta, sofrer de autoestima extremamente baixa, ter pequenos problemas escolares e apresentar vários desvios sexuais, como se travestir, ser promíscuo ou exibiconista e praticar voyeurismo, fetichismo ou mastubação excessiva. Para conferir o perfil completo traçado por Ilana, clique aqui.
O criminoso possuía uma máscara social. Ele era casado, pai de cinco filhos e funcionário modelo de uma empacotadora. Cléber era um homem franzino, humilde e muito articulado. Além disso, ele era informante da polícia, conhecido no meio policial como Vascaíno, e também possuía um irmão policial. Acredita-se que, devido a essa proximidade com as autoridades, ele buscava estar a par da atuação das investigações.
O estuprador foi preso em 2008 em razão de um roubo de celular. Na época, não havia qualquer materialidade que servisse de embasamento para acusá-lo pela onda de estupros. Ao mesmo tempo, durante o período de 12 meses em que permaneceu encarcerado, os casos de crimes sexuais com o padrão apurado pela PCDF no Gama e em Santa Maria desapareceram. Visite nossos parceiros – líderes em calçados da moda!
Em agosto de 2011, época em que passou a ser desleixado, Cléber foi preso preventivamente em agosto, quando tinha 28 anos. Graças ao material genético colhido em uma vítima estuprada em Santa Maria, a PCDF conseguiu provar que o crime sexual havia sido cometido por Cléber de Jesus Rodrigues.
Segundo Eula Calazans, ex-agente de polícia do Gama, Cléber levou mais de 10 horas para confessar. Eula conta que utilizou o perfil traçado por Ilana durante os interrogatórios, apelando para o cavalheirismo do criminoso de perfil romântico.
A sentença
Após fazer dezenas de vítimas, o criminoso acabou preso preventivamente, julgado e condenado. Como não se pode passar mais de 30 anos preso no Brasil, Cleber ficará na cadeia até 2041, quando estará com 58 anos.
Atualmente, ele está preso no Bloco D da Papuda, destinado aos condenados por crimes sexuais.
Por que Jack?
No mundo do crime, Jack é um apelido dado aos estupradores.
No chamado “código de honra” dos criminosos, os autores de estupro são punidos com a morte dentro dos presídios.
Conheça uma das vítimas
Mulher, 31 anos, zeladora e moradora de Brasília.
Atualmente, mora com as filhas e o ex-marido. O crime de estupro aconteceu em 30 de dezembro de 2010. Ela estava voltando da livraria Cultura, onde conseguiu seu primeiro emprego, às 22h40, quando foi abordada por Jack da Bike (Cléber), no condomínio da sua casa.
“Quer ficar viva? Fica quieta”, ameaçou Jack com uma arma na mão.
Ele a levou para fora do condomínio onde ela morava e consumou o ato em uma área de mato, embaixo de uma árvore.
“[Atualmente], tudo é gatilho para mim”, relatou a vítima. A mulher faz tratamento psiquiátrico, visto que já teve depressão, faz uso de vários remédios diariamente e tentou suicídio em outros tempos. Ela conta que já trabalhou como recepcionista e atuou em outros empregos, porém sempre pede demissão ao final do ano, pois é o momento em que se lembra do crime.
Em novembro de 2022, a vítima ficou internada por alguns dias depois de lembrar do estupro. Ela disse que viu uma nuvem escura no céu e teve uma recaída; é o inconsciente fazendo a ligação entre a nuvem e o caso, segundo a sua psicóloga.
Esta mulher foi fundamental para as investigações, já que a coleta de DNA feita nela foi uma peça importante para desvendar que Cléber era o Jack da Bike.
Para saber mais sobre este caso, clique aqui e assista aos vídeos produzidos pelo programa Investigação Criminal.