Jornalismo investigativo desmascara fraudes do líder religioso TB Joshua

Imagem ilustra o líder religioso

Por Mai Moreira
Contato – maimoreira@newsic.com.br

O líder religioso TB Joshua, pastor e fundador de uma das maiores igrejas evangélicas cristãs do mundo, foi acusado de cometer fraudes, abusos e torturas ao longo de sua carreira. Testemunhas e provas contra o homem foram apresentadas pela BBC Africa Eye, em uma investigação conduzida por Charlie Northcott, Helen Spooner, Maggie Andresen, Yemisi Adegoke e Ines Ward.

Há mais de três décadas, TB Joshua fundou a Igreja Sinagoga de Todas as Nações (SCOAN, na sigla em inglês) em Lagos, Nigéria, e teve seus milagres transmitidos em TV aberta e, posteriormente, em sua própria emissora, a Emmanuel TV, por satélite e depois online.

A fama dele se deu devido aos seus autoproclamados poderes divinos e à sua capacidade de curar. Porém, após a investigação da BBC, a qual envolveu mais de 25 membros da igreja no Reino Unido, na Nigéria, na Gana, nos EUA, na África do Sul e na Alemanha, foram reveladas algumas das maneiras pelas quais o homem enganava os fiéis.

Uma delas era o “departamento de emergência”, local onde os enfermos eram examinados antes dos milagres. De acordo com Agomoh Paul, que foi supervisor do departamento por 10 anos, a equipe dessa área era responsável por decidir quem seria filmado e receberia a suposta cura.

Agomoh Paul afirmou à BBC que os casos verdadeiros de câncer eram todos dispensados, e que as pessoas que possuíam algum tipo de enfermidade com feridas abertas eram levadas até o líder religioso, apresentadas e filmadas como pacientes com câncer. Além disso, o homem também disse que a equipe do departamento era “treinada por médicos”, sendo responsável por fazer com que os milagres parecessem reais.

Os próprios funcionários do departamento de emergência também foram vítimas do líder religioso, sendo submetidos a estupros, violências físicas e torturas, além de serem obrigados a viver seguindo um conjunto rígido de regras, as quais proibiam, por exemplo, dormir mais que algumas horas seguidas.

Outra forma de enganar os enfermos era com medicamentos. Os visitantes que procuravam a igreja precisavam preencher um relatório médico, detalhando a sua doença e os medicamentos que faziam uso. Assim, os discípulos do líder religioso instruíam que os enfermos parassem de tomar os remédios, e, então, os farmacêuticos da igreja adquiriam o mesmo medicamento indicado pelo paciente e administravam à pessoa sem que ela soubesse. 

Tash Ford, uma mulher sul-africana de 49 anos, foi uma das pessoas enganadas. Ela procurou o líder em 2001, na esperança de curar a sua insuficiência renal. Ela foi orientada a parar de tomar os remédios e a ter fé. 

Tash seguiu todas as orientações da igreja e, depois de quatro semanas sem tomar os remédios, ela teve que ser internada. O rim de Tash parou de funcionar, e ela teve que fazer diálise renal por mais de 6 anos. Em 2011, ela realizou o seu terceiro transplante.

Quando o HIV/Aids atingiu níveis de epidemia em diferentes partes da África Subsaariana, na década de 1990, Joshua instruiu que os fiéis parassem de tomar os medicamentos antirretrovirais. Um ex-discípulo de Joshua, que não quis ser identificado, lamentou o ocorrido, dizendo: “Sei que pessoas morreram porque não tomaram os remédios, e é difícil viver com isso”.

Outros discípulos alegaram à investigação que foram encarregados de encontrar pessoas que precisavam de dinheiro para encenar que estavam doentes. Nas “turnês de cura”, os discípulos iam até as áreas mais pobres das cidades em busca de pessoas que fingissem ser curadas. 

As falsas curas foram contestadas em 2000, quando o jornalista nigeriano Adejuwon Soyinka revelou que os atestados médicos utilizados pelos enfermos eram falsos. Na época, Joshua negou as acusações, e o caso foi esquecido.

Os vídeos da Emmanuel TV também eram falsos, de acordo com Bisola, editor-chefe de vídeo da SCOAN por cinco anos, que optou por informar apenas o seu primeiro nome. Ele contou que os vídeos de “antes e depois” muitas vezes eram gravados com meses ou até anos de diferença, sendo editados para mostrar apenas aquilo que era de interesse do líder religioso. 

Antes de publicar a sua apuração, a BBC entrou em contato com a SCOAN, porém a igreja não respondeu. Por meio de um comunicado, a organização disse: “Acusações infundadas contra o Profeta TB Joshua não são novidade. Nenhuma das acusações foi fundamentada”.

TB Joshua morreu em 2021, aos 57 anos. 

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