No dia 11 de outubro, foi divulgado o caso de seis pessoas que foram infectadas com HIV depois de receberem órgãos doados pela fila de transplantes da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ).
O escândalo foi descoberto no dia 10 de setembro, quando um paciente com o coração transplantado deu entrada no hospital com sintomas neurológicos, e acabou testando positivo para HIV, não tendo o vírus antes da cirurgia. Com a inspeção da procedência do órgão, uma investigação foi iniciada.
Segundo apurações do governo do estado, o erro foi do laboratório responsável por fazer a sorologia de órgãos doados. Trata-se do PCS Lab Saleme, uma empresa privada localizada em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que foi contratada em um processo de licitação por R$ 11 milhões.
Os órgãos infectados vieram de dois doadores. Um dos indivíduos teve o fígado e os dois rins removidos, e os três receptores foram infectados por HIV.
Já o outro doador teve o coração, os rins, as córneas e o fígado removidos. Os receptores do coração e dos rins testaram positivo para o HIV, enquanto o receptor das córneas não foi infectado. O receptor do fígado morreu após a cirurgia, e as autoridades investigam se a morte teve relação com o vírus.
Na sorologia dos dois doadores, o PCS Lab Saleme emitiu laudos negativos para HIV. Porém, conforme apurações da Anvisa, o laboratório não tinha kits de exames de sangue e não apresentou a documentação que comprovaria a compra desses kits. Com isso, acredita-se que os órgãos não foram testados, e que os resultados da sorologia foram forjados.
No dia 14 de outubro, a Polícia Civil cumpriu a operação Verum, que prendeu Walter Vieira, sócio do PCS Lab Saleme que teria assinado um dos laudos forjados, e Ivanilson Fernandes dos Santos, outro responsável pelo laudo. Outros dois indivíduos também foram alvos de mandados de prisão, mas suas identidades não foram divulgadas e, até última atualização, eles ainda não foram presos.
A Delegacia do Consumidor (Decon) também realizou diligências no dia 14 de outubro, cumprindo 11 mandados de busca e apreensão. A sede do laboratório foi inspecionada, e a porta teve de ser arrombada para que os agentes conseguissem entrar.
A auditoria feita na unidade revelou 39 irregularidades, entre elas o fato de o laboratório não ter licença para operar no local, armazenar amostras de sangue não identificadas e não ter registros de treinamento de funcionários.
O PCS Lab Saleme foi interditado imediatamente após a descoberta do caso, e o serviço de sorologia foi transferido para o Hemorio, unidade de saúde estadual. Em nota, a SES-RJ afirmou que testará todas as amostras de sangue armazenadas no laboratório suspeito desde a contratação da empresa.
Em entrevista ao programa Fantástico, uma das pacientes infectadas expressou sua indignação com o laboratório: “Eles não estão lidando com a nossa vida. Foi só dinheiro que eles viram”. Além disso, ela revelou que só foi orientada pelas autoridades sobre tratamento e medicação para o vírus depois que a situação repercutiu na mídia.
O caso é investigado pelo Ministério da Saúde, pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), pela Polícia Civil e pelo Conselho Regional de Medicina (Cremerj).
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Por Isabel Bergamin Neves
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