São Paulo, uma cidade que pulsa com arte e cultura, foi palco de uma tragédia que calou a voz de um talentoso artista da região. NegoVila, como era conhecido Wellington Copido Benfati, um muralista, artista plástico, cenógrafo e apaixonado por skate, teve sua vida interrompida de forma brutal na madrugada de 28 de novembro de 2020, em um episódio que abalou a comunidade artística e acendeu debates sobre violência policial e racismo.
Naquela fatídica madrugada, NegoVila estava com amigos em frente a uma distribuidora de bebidas, próxima à Vila Madalena, bairro que emprestava seu nome artístico. Uma briga entre um de seus colegas e um policial militar de folga irrompeu, e NegoVila tentou intervir para acalmar os ânimos. O que se seguiu foi uma sequência trágica de eventos.
O policial militar Ernest Decco Granaro, de 34 anos, portando uma pistola calibre .40, disparou para o alto, causando pânico e correria no local. O artista caiu ao chão e, ao se aproximar, o policial atirou novamente, atingindo NegoVila mortalmente. Decco estava de folga naquela noite, e a arma utilizada pertencia à Polícia Militar.
As versões dos acontecimentos divergem, e o caso se tornou objeto de intensa investigação. Segundo relatos registrados no boletim de ocorrência, os policiais presentes afirmam que Decco se recusou a cumprir ordens, o que resultou em sua abordagem e algemação por parte dos PMs que conduziam a ação. Por sua vez, Decco alegou que foi vítima de agressão física e cercado por um grupo de pessoas que tentaram tomar sua arma, levando-o a atirar para “repelir a injusta agressão”.
Testemunhas relataram versões conflitantes, mas quatro delas afirmaram que Decco disparou um segundo tiro após NegoVila já estar no chão, e que a intervenção de uma pessoa que se jogou para proteger o corpo do artista impediu um terceiro disparo.
O julgamento do sargento Decco ocorreu em outubro de 2022, e ele foi condenado a 15 anos de prisão. No entanto, responde ao processo em liberdade e já havia ficado detido por pouco mais de um ano no Presídio Militar Romão Gomes. Sua liberdade gerou indignação entre os manifestantes que pedem justiça e transparência no caso.
A irmã de NegoVila, Tatiane Benfati, uma enfermeira, expressou suas suspeitas de que o crime poderia ter sido motivado por racismo, visto que o policial envolvido é branco e o artista era negro. A luta por justiça mobilizou a comunidade artística e moradores da Vila Madalena, que saíram às ruas em uma comovente manifestação em homenagem ao artista.
Com camisetas estampando o rosto de NegoVila e a frase “Todo Nego é Nego Vila”, os manifestantes percorreram o bairro, clamando por um desfecho justo e condenando a violência policial. O Beco do Batman, famoso por seus grafites coloridos, foi pintado de preto como símbolo de luto e protesto.
Para saber mais sobre este caso, assista ao vídeo produzido pelo programa Investigação Criminal, clique aqui.