Por Leo Soares
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Na década de 1970, um crime brutal chocou o Brasil e tornou-se um símbolo da impunidade durante a ditadura militar. O caso Ana Lídia Braga, uma menina de apenas 7 anos que morava na SQN 405, bloco O da Asa Norte, em Brasília, envolveu sequestro, tortura, estupro e assassinato, marcando uma história permeada por falhas na investigação, influência política e reviravoltas intrigantes.
Ana Lídia foi sequestrada em 11 de setembro de 1973, após ser deixada no Colégio Madre Carmen Sallés por um amigo de seus pais. Depois de ter sido torturada, estuprada e asfixiada, seu corpo foi encontrado no dia seguinte, semi-enterrado em um terreno da Universidade de Brasília (UnB). As falhas na perícia e na investigação policial foram evidentes desde o início, alimentando teorias conspiratórias.
Os suspeitos apontados incluem Álvaro Henrique Braga, irmão de Ana Lídia, e Alfredo Buzaid Júnior, Eduardo Ribeiro Resende e Raimundo Lacerda Duque, filhos de políticos e membros da alta sociedade brasiliense, que nunca foram oficialmente acusados pelo crime.
O caso levou à propagação de acusações falsas e à tentativa de abafamento por parte do regime militar, que controlava as investigações. O sítio do então vice-líder da ARENA no Senado, Eurico Resende, tornou-se o centro das investigações.
Em um contexto em que a ditadura militar controlava o país, o caso Ana Lídia foi marcado por passividade da família e censura da imprensa. Em 1974, um comunicado oficial proibiu a divulgação de qualquer informação sobre o caso em meios de comunicação, perpetuando o manto de silêncio em torno do crime.
Somente em 1985, após 13 anos, o processo foi reaberto devido à alegação de novas evidências. A repórter Mônica Teixeira, da Abril Vídeo, trouxe à tona testemunhas que apontavam para o filho do ex-ministro da Justiça, Alfredo Buzaid.
Contudo, eventos misteriosos, como a morte de testemunhas e dificuldades na exumação do corpo, resultaram no fechamento do processo em 1986.
Até hoje, o caso Ana Lídia permanece sem respostas, e nenhum culpado foi oficialmente apontado. O Parque Ana Lídia, uma área no Parque da Cidade dedicada à memória da menina, e seu túmulo no cemitério da cidade tornaram-se locais de homenagem, alimentando uma crença popular na santidade da criança.
Entre os citados no crime, Alfredo Buzaid Júnior morreu em 1975 em um acidente de carro, Eduardo Ribeiro Resende cometeu suicídio em 1990, e Raimundo Lacerda Duque faleceu em 2005 devido a complicações relacionadas ao alcoolismo. Álvaro Henrique, irmão de Ana Lídia, está vivo, é médico angiologista e mora no Rio de Janeiro.
O caso Ana Lídia persiste como um capítulo sombrio da história brasileira, marcado pela injustiça e pelo peso da impunidade em meio ao controle autoritário da ditadura militar.