Um mistério que desafia o tempo

Ilustra vítima

Rio de Janeiro, 02 de agosto de 1973 – Uma noite tempestuosa, com trovoadas e chuva, marca o início de uma tragédia que ainda ecoa nas ruas cariocas. Carlos Ramires da Costa, um menino de 10 anos, carinhosamente chamado de Carlinhos, foi sequestrado dentro de sua própria casa, deixando sua família em desespero e a comunidade perplexa diante de um crime até então raro na cidade maravilhosa.

Naquela noite, a residência da família Costa, na rua Alice, zona sul do Rio de Janeiro, transformou-se em um cenário de pânico. A mãe do menino e quatro dos seis irmãos dele testemunharam o sequestro, que foi conduzido por um jovem negro que vestia uma blusa vermelha e tinha o cabelo estilo black power. A luz repentinamente cortada, a casa invadida, a mãe e os irmãos trancados no banheiro: uma cena que ficaria marcada para sempre na memória da família.

O sequestrador exigiu “a criança menor que estava em casa” e, antes de fugir com Carlinhos, deixou um bilhete com erros de português pedindo um resgate de “cem mil cruzeiros” a ser entregue até o dia 04 de agosto. O pai, João Ramires da Costa, chegou à residência pouco tempo depois e seguiu o sequestrador até um matagal nas proximidades, mas a tentativa de recuperar o filho não foi bem-sucedida. 

A investigação que se seguiu revelou uma série de circunstâncias intrigantes, envolvendo falsas confissões e atrasos processuais. Um dos proprietários de uma clínica próxima à residência da família, Mário Filizzola, tornou-se suspeito devido ao seu interesse em comprar a casa dos Costa; funcionários da clínica foram investigados, mas as evidências eram escassas. Além disso, João Costa, pai de Carlinhos, enfrentava dificuldades financeiras, levantando suspeitas sobre o possível envolvimento dele no crime. 

A comunidade local arrecadou o dinheiro para o resgate, ultrapassando três vezes o valor exigido, e a bolsa com o dinheiro foi deixada no local indicado. Entretanto, Carlinhos nunca retornou, e o destino do dinheiro extra mobilizado permanece desconhecido. 

O caso teve uma reviravolta em 1977, quando o detetive particular Bechara Jalkh ressuscitou as acusações contra João Costa. Silvio Pereira, funcionário de João, foi apontado como autor do sequestro, e Vera Lúcia, irmã mais velha de Carlinhos, teria reconhecido Silvio no dia do sequestro, mas teria sido ameaçada pelo próprio pai para que permanecesse em silêncio. Silvio foi condenado, mas posteriormente absolvido.

Em 2006, Jorge Soares da Cunha, residente em São Gonçalo, recorreu à imprensa alegando ser Carlinhos. Sua história, marcada por uma adolescência entre a rua e abrigos, intrigou a comunidade. A sua suposta família o contatou, mas após a realização de um exame de DNA em um laboratório desconhecido, cujo resultado Jorge nunca obteve, a família nunca mais o procurou. Apesar disso, ele insiste em sua identidade como Carlinhos, recordando agressões e um sequestro que ele alega ter sido ordenado por um familiar, que terminou por levá-lo a um centro espírita.

O caso de Carlinhos permanece envolto em mistério. As dúvidas sobre os envolvimentos do pai, as incongruências nas investigações e a incerteza sobre o destino do menino continuam a intrigar a cidade. Até hoje, a verdade por trás desse crime que abalou o Rio de Janeiro permanece sem resposta, deixando uma cicatriz profunda na história de uma família e na memória da cidade.

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Por Leo Soares
Contato – leonardo@newsic.com

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