Câmeras corporais na atividade policial são medidas inócuas e sem embasamento técnico

A polêmica acerca da inserção de câmeras corporais na atividade policial expõe uma ausência de considerações racionais para diagnóstico e análise de uma realidade complexa. 

Focar na câmera corporal como solução para os problemas da segurança pública no Brasil desconsidera fatores empíricos, como a redução da neutralização dos criminosos, que agora se mostram mais violentos e persistentes. Além disso, os desdobramentos negativos deste protocolo incluem a possível ingerência indevida na vida privada de terceiros e dos próprios policiais, levantando questionamentos sobre o uso de áudios e imagens como meio probatório.

Alguns setores da  sociedade erram ao estereotipar toda uma instituição policial como arbitrária e abusiva.  A câmera corporal sinaliza que o Estado parece mais preocupado em vigiar seus próprios policiais, que já estão sujeitos a diversos mecanismos de correção, ao invés de combater o crime com investimento em capacitação continuada, valorização salarial e, principalmente, infraestrutura adequada para os desafios inerentes ao enfrentamento da criminalidade. 

Atualmente, apesar das prisões e apreensões de drogas e armas, a população não se sente segura. O Estado precisa ser proativo, investir em investigação qualificada e dar ênfase na aplicação de políticas públicas de prevenção. Ações imediatistas e baseadas no senso comum geram impunidade e aumentam a sensação de insegurança.  

Investir em polícia judiciária é essencial. Repor os quadros de policiais, tanto civis quanto militares, é uma obrigação básica. Não podemos aceitar o descumprimento de princípios basilares e desconsiderar essas medidas elementares, preferindo medidas inócuas e sem embasamento técnico. 

E definitivamente não serão câmeras corporais inseridas na vestimenta policial que trarão mais segurança pública para a sociedade.

 

 

Raquel Gallinati

Delegada de Polícia; pós-graduada em Ciências Penais, em Direito de Polícia Judiciária, e em Processo Penal; mestre em Filosofia; e Diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil e Embaixadora do Instituto Pró-Vítima.

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